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domingo, 20 de outubro de 2013

O Zen, o Xamanismo Urbano e a Bem-Aventurança


O ZEN, O XAMANISMO URBANO E A BEM-AVENTURANÇA

"Se uma pessoa tem uma crença, isso é questão de foro íntimo. Mas não podemos negar que os não-crentes ou crentes de outras também façam parte da humanidade. Para eles, a paz interior, a felicidade e a alegria também são valores importantes. O cultivo de valores internos formam a base da vida feliz. Isso deve ser feito através da educação, não pela pregação religiosa. É importante que esses conceitos tenham abrangência universal e respeito."                (Dalai Lama)
 Tampouco o budismo detém o monopólio da verdade. Aspirar a atingir a outra margem é apego. Não dispomos de passado nem futuro. Importa o amor presente, nada mais importa. O budismo tem uma porta de entrada. Mas, obviamente, não é a única. O budismo não pertence ao budismo.

  O zen é uma prática respeitosa e compassiva. O caminho do zen é o da descoberta de si mesmo. É o caminho do autoconhecimento.

  Outras linhagens do budismo também têm propósito igual, sobretudo com a prática meditativa. O zazen é uma técnica bastante despojada e acurada de meditação. É a meditação do zen. Zen quer dizer meditação. Zazen quer dizer meditação sentada.

  O budismo pode ser religião e não só. O budismo pode ser filosofia e não só. O budismo pode ser os dois e pode não ser nem um nem outro. Igual sentido pode ser o zen, muito especialmente. O budismo pode ser o budismo e não só.

  Vejo jovens se perguntando como se tornarem budistas e respostas complicadas no lugar do simples: despertando-se.

  Despertar significa mente atenta. E como se consegue isso? Mormente com a prática meditativa, disciplinada, desmistificada. Meditação é ciência quântica, nada mais. Sem nenhum artifício ou agregado. É cristalina, é pura por essência. Embora possa ajudar muito, prescinde da arte nostálgica de "mestre e Gafanhoto".

  O xamanismo urbano é uma outra prática, perfeitamente distinta do zen ou do budismo em geral. O xamanismo moderno, urbano, tem servido a jovens em tratamento de toxicodependência e outros problemas psicossomáticos, com considerável positividade de resultados. O xamanismo moderno, urbano, também é escolhido como um caminho alternativo de autoconhecimento e compreensão do todo universal. Porém, como disse em parágrafo anterior, nada a ver com o zen ou com o budismo em geral. O xamanismo é uma outra linguagem e visão do mundo que, como quaisquer outras, deve ser considerada com dignidade.

  Inúmeros são os jovens que pensam que estão a trilhar os dois caminhos simultâneos, mas, nessa hipótese, não estão a trilhar nenhum. Muita delusão pela frente até que se encontrem ou não a si mesmos.

  O aspecto compassivo e de unicidade, de ambos, zen e xamanismo, são convergentes. A bem-aventurança de qualquer filosofia e de qualquer religião é o próprio amor universal, em respeito ao planeta, em respeito à vida.

  Jamais experimentei qualquer substância como meio de alteração de consciência, mas respeito profundamente todos os praticantes de crenças ou ritos que não sejam os meus, de diferentes religiões ou filosofias.

  O zen é libertação. O despertar do centro do universo que está dentro de cada um. Não é cantoria, não é dança, não é necessariamente devocional, não é alegoria. O Buddha do zen em primeiro é o seu próprio despertar. A Sangha do zen em primeiro é a humanidade inteira. O Dharma do zen em primeiro é a Terra toda e o céu e o infinito. E não me digam que estou errado. E não me venham com teorias que não praticam exemplarmente.              

  Despertando-se, dilui-se, compartilha-se, unifica-se, no vazio e na forma, com o Universo. Não há misticismos no zen, mas puro amor universal, pura compaixão. É tudo. Nada além disso. A dialética é a da não dialética. É a do todo. É a do paradigma. A forma é o vazio. O vazio é a forma. Neles, de maneira desperta, de fato somente o amor está, de fato somente o amor é. Mais nada e nada mais a lhe acrescentar muito menos.

  Estabeleço agora o zen livre que existe desde sempre. Quem sou eu para fazê-lo? Não sou ninguém! E o zen, rigorosamente, é o nada.

Paris, Outono de 2013,

Post Scriptum